Uma tendência perturbadora está se consolidando entre os jovens: uma overdose intencional de Benadryl, não para tratar alergias, mas para induzir alucinações intensas e aterrorizantes. Isto não é uso recreativo de drogas como a maioria entende; é uma descida deliberada a um delírio induzido quimicamente, muitas vezes procurado como forma de fuga, automutilação ou simplesmente curiosidade mórbida.

O fascínio da “viagem ruim”

Ao contrário dos psicodélicos, que alguns usuários procuram para experiências eufóricas ou esclarecedoras, as viagens induzidas por Benadryl são universalmente descritas como brutais. O objetivo não é o prazer, mas o terror puro e não filtrado de uma realidade distorcida. Os usuários relatam alucinações vívidas, muitas vezes incluindo uma figura recorrente conhecida como “Homem do Chapéu” – uma entidade sem rosto, com uma cartola e olhos vermelhos brilhantes.

O apelo reside na completa perda de controle. Como disse um usuário, John: “Você pode estar passando pela pior coisa de todas, e isso simplesmente não importa, porque no momento em que você pensa, estou vendo aranhas, é isso que importa. Esta fuga tem um custo: aumentos graves da frequência cardíaca, náuseas, falta de ar, perda de memória e risco de convulsões, coma ou mesmo morte.

A Ciência do Delírio

A difenidramina, o ingrediente ativo do Benadryl, é um delirante anticolinérgico. Ao contrário dos psicodélicos serotoninérgicos, não manipula os receptores de serotonina para induzir alucinações. Em vez disso, bloqueia a acetilcolina, um neurotransmissor vital para a função cognitiva e a memória. Esse bloqueio leva a um colapso na percepção da realidade, muitas vezes manifestando-se como alucinações vívidas e aterrorizantes.

O toxicologista Ryan Marino explica que o mecanismo exato por trás dessas imagens perturbadoras permanece desconhecido. “A razão direta para esses recursos visuais, eu não acho, é realmente compreendida”, diz ele. Os efeitos não são viciantes no sentido tradicional, mas os comportamentos subjacentes – a procura de fuga da realidade – podem levar ao uso compulsivo.

A ascensão da tendência

O desafio Benadryl ganhou força no TikTok em 2020, incentivando os usuários a tomar 12 ou mais comprimidos para uma viagem intensa. A tendência ressurgiu repetidamente, alimentada por comunidades online no Discord e no Reddit, onde os usuários compartilham relatos de viagem e se gabam de altas dosagens.

A acessibilidade e o preço acessível do Benadryl contribuem para a sua popularidade. Alguns usuários a chamam de “droga da pobreza” porque uma grande quantidade pode ser comprada por apenas alguns dólares. Isto torna-o uma fuga acessível para aqueles que não têm meios para comprar outras substâncias.

O lado negro da fuga

Para muitos, o consumo de altas doses de Benadryl é uma forma de automutilação. O objetivo não é o prazer, mas um completo desapego da realidade. Um usuário, Tom, explica que os delirantes entorpecem as emoções, ao contrário dos psicodélicos, que podem amplificá-las.

Os efeitos a longo prazo são preocupantes. Altas doses podem causar declínio cognitivo, perda de memória e danos neurológicos potencialmente permanentes. Apesar dos avisos da FDA e dos profissionais médicos, a tendência persiste, impulsionada por uma procura desesperada de fuga numa geração que enfrenta crises de saúde mental e instabilidade financeira.

O contexto mais amplo

O aumento desta tendência reflecte uma confluência perturbadora de factores: a normalização dos perigosos desafios online, a acessibilidade a medicamentos baratos e as lutas generalizadas em matéria de saúde mental entre os jovens.

O apelo do delírio induzido por Benadryl não é a busca do prazer, mas a rendição ao terror. É um lembrete sombrio de que, para alguns, a única fuga da realidade é perder-se completamente dentro dela.

Essa tendência não é o uso recreativo de drogas; é um pedido desesperado de ajuda disfarçado de jogo perigoso.